Você sente medo?
- mairatravagin
- 22 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
O medo é um afeto, que tem relação com situações de perigo ou ameaça e a forma como elas nos afetam, causando sensações, sentimentos e emoções desagradáveis – frio na barriga, tremedeira, pensamentos ruins, suor excessivo. Por isso parece ser sempre algo a ser eliminado, que não deveria ser sentido. É comum quando alguém nos diz que está com medo – seja adulto ou criança, que a gente responda: “não é nada”, “vai passar”, “que bobeira”.
Com isso não estamos, de fato, enfrentando os medos, estamos apenas reforçando a ideia de que ele não é bom, que não deve existir, que não pode ser dito ou sentido. Principalmente, com isso acabamos por invalidar a experiência que aquela pessoa enfrenta, passando a ideia de que ela não tem recursos para lidar com a situação. Mas se o medo é o afeto diante do perigo ou ameaça, ele é parte importante das nossas experiências – afinal, precisamos saber reconhecer um perigo para podermos nos proteger dele.
Assim, um pouco de medo é importante para trilharmos nossos caminhos. O que é ruim é o medo que causa sofrimento exagerado, o medo que paralisa. Descobrir como usar o medo "a nosso favor", de um jeito que funcione para quem o experimenta é importante para vivermos boas aventuras por esse mundão. E a coragem aparece nessa descoberta, neste caminho de atravessar o medo. Tendemos a achar que ter coragem é não ter medo, mas ela é justamente a travessia dele.
Se as crianças pequeninas quando estão com medo choram, gritam, dizem que estão com medo, tremem, os adultos, tomados pelo equívoco de que “o medo não é bom”, acabam por disfarçar o medo, fingir que “está tudo bem”, “ser forte”. Mas é mesmo só um disfarce, afinal, não tem um botãozinho que seja capaz de desligar o medo. O problema é que sendo disfarce, o medo continua lá, e acaba por aparecer na forma de raiva, agressividade, tristeza ou mesmo na experiência de muita angústia.
É, o medo, por pior que pareça, está sempre localizado, tem um objeto – não é medo sozinho, é sempre medo de alguma coisa, o que possibilita que falemos dele. Quando não pode ser dito, vira angústia, que é aquela coisa ruim que sentimos, para o quê muitas vezes não encontramos palavras e vira sofrimento no corpo, transtornos ou distúrbios emocionais.
Quando alguém se coloca a falar daquilo que experimenta como emoção ou sentimento, pode se apropriar deles e aprender a traduzir em palavras, em gestos, o que se sente, e com isso, ganhar companhia para atravessar os medos nesta jornada. Afinal, se não tem como desligar o botão do medo, é melhor que se possa bem atravessá-lo.
E o que nós podemos fazer por alguém que sente medo? Não precisa muito mais que segurar na mão, reconhecer que ele existe e que é possível seguir caminhando – com medo mesmo, mas, em boa companhia.

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